Celso Antônio de Menezes
1896, 13 julho | Caxias, MA, Brasil
1984, 26 maio | Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Escultor maranhense, participou intensamente do movimento modernista, ao lado de Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Victor Brecheret, entre outros. Iniciou sua formação com Rodolfo Bernardelli no Rio de Janeiro, no entanto, é em Paris, como aluno e auxiliar de Antoine Bourdelle, que Celso Antônio se aprimora na arte da escultura. De volta ao Brasil em 1926, passa a residir na capital paulista onde executa diversas esculturas para túmulos e, em Campinas, o Monumento ao Café. Foi professor na Escola Nacional de Belas Artes convidado por Lucio Costa e no Instituto de Artes da antiga Universidade do Distrito Federal - UDF, juntamente com Candido Portinari. Realizou diversas encomendas oficiais a pedido de Gustavo Capanema, ministro da Educação e Cultura de Getúlio Vargas, e outras durante o governo Dutra. Entre as últimas obras realizadas pelo escultor, destaca-se o busto do poeta Manuel Bandeira, realizado em 1966.
Grandes Escultores do Brasil
por José Roberto Teixeira Leite
Nós brasileiros muitas vezes nos revelamos de indesculpável miopia para com alguns de nossos maiores artistas. Que o diga Celso Antônio, cuja carreira, iniciada de modo tão auspicioso, terminou em frustração, a ponto de ter dependido na velhice de uma pensão de quatro salários mínimos concedida em caráter especial pelo Governo Federal!
Maranhense de Caxias, Celso Antônio de Menezes começou a desenhar em criança, e vivia no Pará quando recebeu do governador do Estado uma passagem para o Rio de Janeiro, onde chegou em 1913, com bolsa do Estado natal, afim de estudar na Escola Nacional de Belas Artes; na mesma cidade frequentou as aulas ministradas por Rodolfo Bernardelli em seu ateliê do Leme, e foi junto ao veterano escultor que aprendeu o ofício. Tinha 20 anos quando participou pela primeira vez do Salão Nacional de Belas Artes, o que continuaria fazendo até 1931. O sucesso alcançado com sua escultura Primeira Mágoa fez com que, graças ao apoio entusiástico do conterrâneo famoso Coelho Neto, o governo do Maranhão lhe concedesse nova bolsa de estudos, agora de aperfeiçoamento em Paris. Na capital francesa cursou a Académie de la Grande Chaumière, aluno do célebre Antoine Bourdelle, e se integrou à pequena colônia de artistas brasileiros que ali então vivia, entre eles Di Cavalcanti e Victor Brecheret. De regresso ao Brasil em 1926, fixou-se em São Paulo. Datam dessa permanência paulistana obras marcantes, como na capital as esculturas para os túmulos de Carlos de Campos e de Lídia Piza de Rangel Moreira (1927), no Cemitério da Consolação, e em Campinas o Monumento ao Café.
Em 1930 Celso Antônio muda-se para o Rio de Janeiro, onde em 1931, a convite de Lúcio Costa, que então a dirigia, torna-se professor de Escultura na Escola Nacional de Belas Artes; nessa cidade, em 1934, lecionará também no Instituto de Artes da efêmera Universidade do Distrito Federal. Por encomenda do Ministro Gustavo Capanema executa em 1940 uma de suas obras mais conhecidas - Moça Reclinada, para os jardins contíguos ao gabinete ministerial do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde que então se construía (é de 1943 Maternidade, hoje nos jardins da Praia de Botafogo). Para se ter ideia do prestígio de que então desfrutava o escultor, diga-se ter partido do próprio Le Corbusier, atuando como consultor, a sugestão de que se colocasse diante do prédio em construção uma enorme escultura de Celso Antônio, O Homem Brasileiro, cujo modelo em barro teria desmoronado, na presença de Capanema e de seus convidados, segundo Leneide Duarte-Plon em livro de 2012 por sabotagem de parte dos que não concordavam com os traços negroides emprestados à figura pelo artista. Seja como for, o projeto não foi adiante, fosse por dificuldades de natureza financeira ou outro motivo qualquer.
Pode-se dizer datar daí o desfavor em que entrou a arte de Celso Antônio, ainda acentuado depois que em 1945 outra escultura sua, Trabalhador Brasileiro, destinada à nova sede do Ministério do Trabalho e representando um tipo bem brasileiro, atarracado e também de acentuada feição negroide suscitou, ao ser inaugurada, reações indignadas do público e da imprensa, a ponto de ter sido retirada, dando então início a uma série de humilhantes deslocamentos e outras tantas rejeições até ser definitivamente colocada, não sem protestos, no Parque Monteiro Lobato em Niterói.
Esses dois fracassos, somados, levaram o artista a se recolher desencantado a um subúrbio do Rio de Janeiro, onde pelas próximas décadas se limitaria a produzir pequenas esculturas de tipos raciais brasileiros, alguns bustos e umas poucas cabeças, até falecer em idade avançada e praticamente esquecido. Terminavam assim a vida e a carreira daquele a quem certo dia Bourdelle dirigiu as seguintes palavras, às quais lamentavelmente poucos deram atenção:
- Tens agora uma sabedoria rara de escultor, como criador de formas na pedra e no mármore. Teu país terá o renome artístico engrandecido confiando-te obras.